Quem sou eu

São Paulo, SP, Brazil
56 anos, paulista de Getulina, Cirurgião Dentista pela UNISA e ex-profissional de Informatica desde os anos 80 até inicio de 2014. Tenho especial interesse nos temas da atualidade que de alguma forma interferem em nossas vidas pessoais e em nossos planos para o futuro: ciências, tecnologia, música, cinema, gastronomia, odontologia. Mais recentemente tenho focando interesse em gastronomia e culinária no geral e em gelateria mais especificamente.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher

Todo dia é dia
(Ivan Ângelo, Veja São Paulo, 16/03/2011, página 142, Editora Abril)
            Ao contrário do que aconteceu em anos anteriores, no último Dia Internacional da Mulher [08/03/2011], as redes nacionais de televisão aberta do país do Carnaval preferiram homenagear um tipo de mulher: a pelada.
            Para uma mulher aparecer pelada na televisão, ela tem de ter corpo. Corpaço. E isso é problema para quem precisa encarar mais de três horas de condução diária, oito de trabalho, refeição barata e calórica, tentações de padaria e fast-food, e várias horas de tarefas em casa.
            A preferência da televisão não fez jus à mulher da nossa vida, mães, esposas, namoradas, irmãs, amigas. Ninguém mais merece tanto amor e amizade, como celebra Vinicius de Moraes na Elegia Desesperada, ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade, ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.
            Poeta, acaso sabias que há mais mulheres do que homens no país? – 3,9 milhões a mais, no último Censo, a que acabamos de responder.
            Haverá para todas, poeta, haverá amor e amizade, poesia e sinceridade, alegria e serenidade? Não que os homens sejam os únicos provedores de tais bens. Eles falham muitas vezes nessa missão, e se tornam, reconheçamos, provedores justamente dos bens contrários, semeando decepção e mágoa. Filhas são agredidas e esposas desrespeitadas por homens considerados de bem quando as portas do lar se fecham. Que descontrole os governa?
            Muitas nem precisam tanto assim de homens para amor, poesia e alegria. Têm amizades, namoradas e companheiras que saberão atendê-las. Mas 4 milhões é muita gente, pode haver falta.
            Até a idade de 20 anos, a balança dos sexos feminino e masculino é mais equilibrada, os homens são na verdade pequena maioria. Depois, até os 50 anos, o número de mulheres ultrapassa muito o de homens. Porque, jovens, eles morrem de aventura – acidentes, assaltos, brigas; e, maduros, morrem de stress. Após os 50 anos, é ainda maior o número proporcional de mulheres. Resultado: elas ficam sós por mais tempo.
            Já há alguns anos, o Rio é a capital em que sobram mais mulheres; há 86 homens para cada 100 mulheres. A violência é uma das razões. Em São Paulo, seis anos atrás, a conta era 91 mulheres para 100 homens. Está sendo atualizada e deve continuar por aí. São cerca de 900 000 mulheres a mais na área metropolitana. A prefeitura fez até um levantamento por região, detectando predomínio de viúvas na Mooca e de descasadas em Pinheiros.
            O excesso aumenta nossa responsabilidade – a nossa, dos homens de boa vontade – e o mês da mulher, março, convida a pensar nisso. O pior, ou melhor, sei lá, é que se diz que o déficit alto de homens no Rio está direcionando de lá para São Paulo as antenas das mulheres com esperança de união estável.
            É responsabilidade nossa contribuir para o bem-estar da mulher, 50%, pelo menos. Elas já têm contra si a variação hormonal, a obrigação da beleza, a pele mais sensível, o peso da gravidez, a amamentação, o salário menor, o funcionamento da casa, a maior suscetibilidade à celulite, o prazer mais trabalhoso… Ela quer beijo, bom humor, saber que foi lembrada durante o dia. Mínimas coisas: uma flor, uma frase, uma empadinha, um telefonema, um torpedinho. Tendo carinho, os outros 50% pode deixar que ela faz.
            E, às que sobram na estatística, quem dará seu quinhão de amizade, sinceridade e serenidade que o poeta pedia? Vamos, homens, temos trabalho extra a fazer.

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